sábado, 1 de maio de 2010

* Se estar só pode ser um jeito de amar!

Costumamos pensar que só ama, de fato e de direito, quem está com alguém, namorando, casado ou encaixado dentro de qualquer outra relação que inclua o outro, necessariamente. No entanto, estar só também pode ser um jeito de amar, de relacionar-se, mesmo que temporariamente.Todos nós, em algum momento da vida, já nos encontramos indisponíveis, mesmo que não comprometidos. Seria como dizer que estamos em posição de espera; e a espera pode ser um exercício divino, que inclui paciência, consciência e, fundamentalmente, presença de si mesmo!Então, ama-se só a si mesmo, enquanto se espera para estar pronto. Ama-se só para um período de revisão, de recauchutarem, de reforma interior. Ama-se só para resgatar em si valores perdidos, desfasados, esquecidos, para voltar a acreditar em algo que se esvaiu numa decepção, para reformular a alegria, a vontade de viver, o desejo de com partilhar. Porque engatar uma relação na outra para fugir deste amor só, de si consigo mesmo, é o que muitas pessoas fazem... é o que todos nós, provavelmente, já fizemos alguma vez. Entretanto, se em algum momento decidirmos nos olhar com acolhimento e respeito, certamente perceberemos que ninguém pode curar uma ferida que é nossa. E até para que alguém nos ajude nesta difícil recuperação, precisamos estar prontos, conectados com o que há de mais íntimo em nossas almas. Isto é, amar-se só.Por outro lado, também existe quem fica continuamente sozinho, enclausurado em seu próprio medo a fim de evitar a reincidência da dor, para descartar a possibilidade de "perder" novamente. E esta escolha, da mesma forma, também não nos remete à evolução, não nos possibilita uma atualização preciosa para que o amor com partilhado aconteça.Neste sentido, estar só pode deixar de ser incapacidade ou incompetência para se transformar em ‘expertise’; você pode não se comprometer com o outro - seja por decisão pessoal ou circunstancial - para estar melhor, mais inteiro, mais atraente e consciente do amor que quer com partilhar, para que quando o outro chegue, você possa decepcioná-lo à altura do que tem para oferecer.Creio que esteja mais do que na hora de pararmos de impor uma relação direita entre "estar junto e feliz" e "estar só e abandonado". Ou seja, estar junto nem sempre significa estar feliz, assim como estar só pode não ser sinonimo de abandono. A referência é interna e pessoal. O centro é o coração de cada um e, por isso mesmo, a decisão de ficar ou de ir, de fechar-se ou de se abrir deve estar baseada na percepção que você tem de si mesmo, no amor que sabe de si, que reconhece seu momento, e que escolhe, a despeito das pressões sociais, se com partilha amor ou se o singulariza temporariamente. Todos nós precisamos do outro, não porque sejamos insuficientes a nós mesmos, mas porque é no ato de com partilhar vidas que nos tornamos mais inteiros, mais felizes, mais humanos.Quando defendo o amor só - veja! - não deixei de falar de amor. Falo do amor primeiro, do essencial, do amor por si. E, sobretudo, falo de um período e não de uma decisão irrefutável, como crenças limitantes que não nos levam a nenhum ganho. De qualquer maneira, continuo, então, defendendo o amor com partilhado, com o outro, mesmo que seja somente depois de um tempo de amor singular!